Gastos com benefícios somaram R$ 196,9 bi em 2024, enquanto arrecadação foi de apenas R$ 9,8 bi
Uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que a previdência rural fechou 2024 com um rombo de R$ 187,1 bilhões. No ano passado, os gastos com benefícios previdenciários voltados a pequenos produtores rurais, pescadores artesanais, indígenas e trabalhadores da agricultura familiar alcançaram R$ 196,9 bilhões, enquanto a arrecadação de contribuições somou apenas R$ 9,8 bilhões.
O levantamento mostrou, ainda, que a política de previdência rural apresenta falhas graves em sua concepção. Apenas 22% dos requisitos avaliados foram plenamente atendidos, enquanto 78% tiveram cumprimento parcial, o que indica, segundo a Corte, fragilidades no entendimento das causas do problema e na identificação clara do público-alvo. Além disso, a ausência de dados dos segurados no Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) dificulta a comprovação da atividade rural e abre espaço para irregularidades.
Outro dado que chama a atenção é o nível elevado de judicialização. Em dezembro de 2024, 34,8% dos benefícios rurais foram concedidos por meio da Justiça, número significativamente maior do que os 13,8% registrados nos casos urbanos. Essa dependência de decisões judiciais aumenta os custos e sobrecarrega o sistema.
O TCU também identificou o chamado “gap de sonegação”, que corresponde a valores não arrecadados por informalidade ou omissões fiscais, estimado entre R$ 1,2 bilhão e R$ 2,6 bilhões apenas em 2024.
Instituída em 1963 pelo Estatuto do Trabalhador Rural, a política vem se ampliando ao longo das décadas. De 2015 a 2024, o número de benefícios pagos aumentou 49%, passando de 798 mil para 1,2 milhão. No ano passado, os benefícios rurais representaram 21,12% do total das despesas do INSS, pressionando ainda mais as contas públicas.
Diante do cenário, o TCU determinou que o Ministério da Previdência Social apresente, em até 180 dias, avaliações periódicas da política rural e elabore estudos em conjunto com o INSS e a Receita Federal para combater a sonegação. Além disso, o tribunal cobrou que o Executivo aperfeiçoe o controle da arrecadação entre os segurados especiais e proponha uma revisão estrutural da política pública com base nas conclusões alcançadas.
Nova geração da televisão promete imagem superior e áudio de cinema; transmissões começam em 2026
A televisão brasileira está prestes a viver sua maior revolução desde 2007 com a chegada da TV 3.0, novo padrão de transmissão que vai substituir o atual sistema digital. A proposta, segundo o Ministério das Comunicações, é oferecer imagem e som em altíssima qualidade, mais interatividade, personalização de conteúdo e integração com a internet.
Mas afinal, o que muda para o telespectador, quando a novidade chega e quais aparelhos serão compatíveis?
A TV 3.0 é a nova geração da TV digital que o Brasil vai adotar nos próximos anos. Ela se baseia em tecnologias avançadas de transmissão, com destaque para o 5G Broadcast e para o padrão de compressão VVC (Versatile Video Coding), permitindo imagens em 4K e até 8K, som imersivo e novos recursos interativos. Na prática, será possível ter uma experiência muito mais próxima do cinema, mas acessível gratuitamente pelo sinal aberto.
A TV 3.0 trará mudanças que vão além da qualidade de imagem, entre elas:
Segundo o Ministério das Comunicações e o Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), os primeiros testes já estão em andamento e as primeiras transmissões da TV 3.0 devem ocorrer no primeiro semestre de 2026, nas grandes capitais. O processo de expansão até atingir a cobertura de todo o território nacional deve levar até 15 anos, período semelhante à transição da TV analógica para a digital, concluída em 2018.
Essa é uma das maiores dúvidas do público. Para receber o sinal da TV 3.0, será necessário ter um televisor compatível com o novo padrão ou utilizar um set-top box, aparelho que faz a conversão do sinal. Assim como na transição para a TV digital, os equipamentos serão disponibilizados gradualmente no mercado. Fabricantes já trabalham no desenvolvimento de novos modelos de TVs que chegarão às lojas até o fim deste ano.
Não. A proposta da TV 3.0 é concorrer em qualidade e interatividade, mas também se integrar ao universo do streaming. O sistema permitirá acessar aplicativos e conteúdos sob demanda diretamente da TV aberta, unindo a transmissão tradicional e a internet em uma mesma experiência.
Sim. Assim como a TV aberta atual, a TV 3.0 continuará gratuita, financiada principalmente por publicidade. A diferença é que os anúncios poderão ser personalizados, aumentando a relevância para cada telespectador.
Além de melhorar a experiência do público, a TV 3.0 abre novas oportunidades de negócios para emissoras e anunciantes. A publicidade será direcionada por perfil e região, o que aumenta a eficácia das campanhas. Também haverá maior possibilidade de integração com o comércio eletrônico e promoções em tempo real.
Empresas já sinalizam redução de vagas nos próximos seis meses em função do tarifaço dos EUA
A nova política tarifária dos Estados Unidos, com alíquotas de até 50% sobre produtos brasileiros, tem frustrado as expectativas do setor industrial. Pela primeira vez desde novembro de 2023, empresários estimam queda nas exportações para os próximos seis meses, o que indica também que o número de empregos pode diminuir.
Em agosto, sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que o índice de expectativa para exportações nos seis meses seguintes recuou 5,1 pontos, atingindo 46,6 — abaixo da linha neutra de 50 pontos, o que indica pessimismo entre os industriais. Essa inversão de perspectiva não ocorria há quase dois anos, segundo a entidade.
“As expectativas relacionadas à quantidade exportada, número de empregados, compra de insumos e matérias-primas e de nível de atividade para os próximos seis meses recuaram em agosto. Essa piora das expectativas relacionadas às exportações da indústria está muito relacionada às incertezas ligadas ao cenário externo, principalmente em função da nova política comercial adotada pelo governo americano”, aponta Isabella Bianchi, analista de Políticas e Indústria da CNI.
Desde o início do mês, quase metade das exportações brasileiras para os Estados Unidos está sujeita à tarifa combinada de 50%. Em 2024, a venda de produtos nacionais ao mercado norte-americano representou cerca de US$ 17,5 bilhões.
Além das exportações, o indicador de expectativa quanto ao número de empregados também mostra sinais preocupantes. O recuo de dois pontos, atingindo 49,3 — também abaixo dos 50 pontos — sugere que as empresas não projetam aumento, e até uma tímida queda no quadro de trabalhadores até fevereiro de 2026.
“A gente está vendo que os Estados Unidos compram muito mais do Brasil do que o Brasil está comprando os Estados Unidos. Isso faz com que a demanda do brasileiro ao mandar produtos para fora, os Estados Unidos não comprando, vai fazer com que a gente tenha mais produtos para compartilhar com outros países, os Estados Unidos diminuindo a aquisição. Isso é um fator que no Brasil pode aparecer outros players para a gente fechar negócios, mas quem sai prejudicado é a pessoa que produz no Brasil”.
Segundo Sidney Proença, educador financeiro e economista da Firece, o cenário comercial do Brasil ainda é incerto e defende mais “proatividade” e “aproximação” ao negociar a redução das tarifas com Washington. “Entendo que o caminho não é ficar trocando farpas. Vemos que os EUA compram muito mais do Brasil do que o Brasil dos EUA. Se eles não compram da gente, isso faz com que tenhamos mais produtos para compartilhar com outros parceiros comerciais. O problema, com isso, é quem sai prejudicado é a pessoa que produz no Brasil”, argumenta.
Em relação ao pacote de medidas anunciado pelo governo federal para socorrer as empresas exportadoras brasileiras prejudicadas pelo tarifaço, Proença avalia que as medidas, como linhas de crédito e suspensão temporária de tributos, ajudam em curto prazo, mas podem ter um efeito reverso lá na frente.
“As linhas de crédito foram sancionadas pelo governo para não ter desgaste com o governo norte-americano. Só que isso implica mais gasto no bolso do empreendedor, que vai ter um alto custo para passar por essa crise que está sendo vivenciada agora. E aí o que pode acontecer é que o produtor brasileiro vai adicionar esse valor no produto final e, consequentemente, aumentar o custo para o consumidor”, complementa o especialista.
A pesquisa da CNI foi realizada entre 1º e 12 de agosto com 1.500 empresas, sendo 601 pequenas, 518 médias e 381 grandes.
Em missão empresarial, governo brasileiro e empresários buscam fortalecer relações bilaterais
Representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) participaram esta semana, no México, de uma missão empresarial liderada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). Na oportunidade, o governo brasileiro e cerca de 150 empresários discutiram a expansão das relações comerciais entre os países, que registraram um comércio bilateral de US$ 13,6 bilhões em 2024, com superávit brasileiro de aproximadamente US$ 2 bilhões.
CNI: Queda nas exportações pode gerar desemprego no setor industrial
Em meio a um cenário de incerteza internacional devido ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, avalia que a visita à capital mexicana encurtou o caminho na busca por diversificação de parceiros comerciais. Segundo ele, desde 2023, o México já anunciou aproximadamente US$ 7,9 bilhões (R$ 44 bilhões) em investimentos no Brasil, valor superior ao registrado em toda a década anterior (2012–2022).
“O Brasil se destaca por sua previsibilidade e estabilidade, atributos fundamentais para atrair investimentos sustentáveis”, ressalta.
Para a CNI, embora relevante, a parceria ainda está abaixo do seu potencial. A gerente de Promoção Comercial da entidade, Tatiana Farah, que participou do encontro, elenca como prioridade a negociação de um acordo mercatório mais abrangente, especialmente nos eixos de segurança alimentar, complexo de saúde, tecnologia e serviços, segurança, transição energética e indústria (autopeças, transporte, aeroespacial, máquinas e componentes).
“Nós estamos falando de dois países que juntos representam 55% da economia da região, 52% da população, 66% do comércio e 64% do investimento estrangeiro direto”, resume.
Outro item da pauta bilateral foi a expansão dos itens contemplados pelo Acordo de Complementação Econômica nº 53 (ACE 53), que estabelece a eliminação ou redução de tarifas de importação para um universo de aproximadamente 800 produtos, entre os quais frutas, legumes e minérios.
“A negociação de um novo marco comercial entre Brasil e México é uma demanda prioritária da indústria e ganha ainda mais relevância no contexto atual. Estimamos que um acordo mais amplo e inclusivo pode proporcionar um crescimento adicional de US$ 13,8 bilhões no PIB dos dois países”, pontua o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Tatiana Farah acrescenta quais são os próximos passos a serem seguidos para que o pacto saia do papel. “Cumprir e ampliar o acordo de reconhecimento mútuo de operadores econômicos autorizados, eliminar barreiras do comércio bilateral — e aí nós temos alguns setores específicos para os quais a gente precisa trabalhar —, e iniciar as negociações de um acordo de livre comércio entre Brasil e México”.
Potencialmente, os setores aeroespacial, farmacêutico e agroexportador têm margem de expansão no âmbito bilateral, o que pode reduzir a forte dependência comercial dos dois países com Estados Unidos e China.
Sondagem da CNI mostra que empresários seguem preocupados com juros altos; confiança recua em agosto
O índice de intenção de investimento da indústria da construção recuou em agosto para 40 pontos, menor nível registrado desde abril de 2023, segundo sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O principal fator para a queda é o impacto das altas taxas de juros no setor, que encarecem o crédito e dificultam a abertura de novos empreendimentos, cenário que reforça a tendência de desaquecimento dos planos de expansão das empresas.
“Ainda não temos uma queda da taxa de juros e isso certamente diminui o apetite para alguns tipos de operações do mercado, além de ter uma crise econômica externa também”, afirma Renato Correia, presidente da CBIC, que projeta que o segmento retome o fluxo de lançamentos até o fim do ano. No segundo trimestre de 2025, aponta a pesquisa Indicadores Imobiliários Nacionais, foram comercializados 102.896 imóveis, movimentando cerca de R$ 68 bilhões — o que representa um comportamento de estabilidade em relação aos quatro trimestres anteriores, de acordo com dados da CBIC.
Ainda que julho tenha apresentado sinais pontuais de recuperação no desempenho da construção civil, incluindo o aumento da Utilização da Capacidade Operacional (UCO) e dos índices de evolução do nível de atividade e de número de empregados, a melhora operacional não se refletiu no humor dos empresários.
O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) da construção caiu 1,3 ponto em agosto, ficando em 45,8 pontos. Valores abaixo de 50 demonstram pessimismo. A percepção negativa é explicada, em parte, pela piora da avaliação em relação à economia brasileira como um todo. O diagnóstico dos empresários é de que os custos de financiamento continuam altos e que a demanda pode perder força nos próximos meses.
Com isso, o índice de expectativa de nível de atividade caiu 1,7 ponto e fechou em 51,4 pontos, enquanto o de novos empreendimentos e serviços caiu 0,4 ponto, ficando em 50,1 pontos, muito próximo da linha que separa crescimento de retração. Mais preocupante foi a queda do índice de expectativa de compras de insumos e matérias-primas, que caiu 2,4 pontos e ficou em 49,8 pontos, abaixo do mínimo esperado.
“As expectativas negativas para a compra de insumos e matérias-primas, assim como as expectativas menos positivas para o nível de atividade, número de empregados e lançamento de novos empreendimentos e serviços na construção, são relacionadas às elevadas taxas de juros, que continuam, entre outras coisas, pressionando bastante o ambiente de crédito, que é tão fundamental para o setor”, ressalta a analista de Políticas e Indústria da CNI, Isabella Bianchi.
Segundo o economista-chefe do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP), Celso Petrucci, os números, na prática, demonstram que, diante da dificuldade de obter crédito em condições favoráveis, muitas construtoras podem optar por adiar projetos e reduzir a aquisição de materiais. Menciona também que o efeito cascata tende a atingir toda a cadeia produtiva, que inclui desde fornecedores de cimento e aço até empresas de serviços especializados, o que pode comprometer a manutenção de empregos.
Outra razão, na visão de Petrucci, que desestimula a ampliação de investimentos na indústria da construção civil é a recomposição pontual dos fundings (busca por capital para expandir ou viabilizar projetos) disponíveis, como a carteira do FGTS.
“A última vez que o Minha Casa Minha Vida sofreu uma adequação em termos de subsídios e adequação de limites foi em julho de 2023. Quanto mais tempo passa, o custo de construção vai subindo, os lançamentos vão se adequando a uma nova realidade do mercado e vai se perdendo o efeito de todas as coisas melhoradas no programa”, analisa.
O economista-chefe do Secovi-SP defende, sendo assim, que o Minha Casa Minha Vida precisa “passar por uma releitura dos seus limites, descontos e de tudo que ele oferece”.
A Sondagem Indústria da Construção, divulgada pela CNI em parceria com a CBIC, foi realizada entre os dias 1º e 12 de agosto, ouviu 318 empresas do setor da construção em todo o país, sendo 122 de pequeno porte, 131 médias e 65 grandes.
O plenário da Câmara dos Deputados deve votar até o fim deste mês a proposta que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês. Caso seja aprovado, o texto, que tramita em regime de urgência, seguirá para análise do Senado.
A taxação de contribuintes de alta renda que ganham ao menos R$ 1,2 milhão por ano (R$ 100 mil por mês), com um mínimo de 10% de alíquota, será a principal fonte de compensação dos custos da isenção, que chegam a quase R$ 26 bilhões. Isso inclui o que os mais ricos ganham com lucros e dividendos de empresas, ou seja, parte do que as empresas distribuem aos acionistas.
Segundo o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o objetivo é tornar o sistema mais justo e aliviar a carga tributária da classe média e dos trabalhadores de menor renda. Caso aprovado, o novo limite de isenção deverá entrar em vigor no próximo ano. Atualmente, estão isentos do pagamento de IR quem ganha até dois salários mínimos, o que equivalente a R$ 3.036.
Quase dois milhões de contribuintes têm recursos a receber; valor total chega a R$ 2,9 bi
A Receita Federal liberou a consulta ao quarto lote de restituição do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) de 2025. No total, cerca de 1,9 milhão de contribuintes terão direito a R$ 2,92 bilhões, incluindo restituições residuais de anos anteriores. A maior parte do valor será destinada a contribuintes sem prioridade no reembolso, que entregaram a declaração próximo ao fim do prazo.
O pagamento será realizado até a próxima sexta-feira (29), diretamente na conta ou na chave Pix do CPF informado na declaração do IR. Quem não estiver na lista poderá verificar pendências no Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (e-CAC) e, se necessário, enviar declaração retificadora ou aguardar os próximos lotes da malha fina. A consulta ao lote pode ser feita pelo site da Receita Federal ou pelo aplicativo. Basta clicar em “Meu Imposto de Renda” e, depois, no botão “Consultar a Restituição”.
Caso aconteça algum problema no depósito, como a conta estar desativada, os valores ficarão disponíveis para resgate por até um ano no Banco do Brasil, podendo ser transferidos para qualquer conta do contribuinte. Após esse período, será necessário solicitar a restituição pelo Portal e-CAC, acessando o menu “Declarações e Demonstrativos” e clicando em “Meu Imposto de Renda”, na opção “Solicitar restituição não resgatada na rede bancária”.
Entre os beneficiados, estão 1,4 milhão de contribuintes sem prioridade, 312 mil que utilizaram a declaração pré-preenchida e/ou optaram pelo recebimento via Pix, 72 mil com idade entre 60 e 79 anos, 22 mil cuja principal fonte de renda é o magistério, 13 mil com mais de 80 anos e sete mil que possuem deficiência física ou mental, ou doença grave.
Novas tecnologias generativas e aplicações em processos produtivos explicam alta demanda
O número de matrículas nos cursos de inteligência artificial oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) cresceu cinco vezes em um ano. Em 2023, a instituição registrou 11,4 mil inscrições, contra 53,4 mil em 2024. O gerente de Educação Profissional e Tecnológica do SENAI, Mateus Simões, atribui a alta demanda às novas tecnologias que surgem no mercado.
“O uso de IA pela indústria não é novidade. Já usamos visão computacional e machine learning, por exemplo, como soluções que trazem ganhos de qualidade, eficiência e produtividade. O aumento exponencial dos cursos é resultado da disseminação que a IA generativa trouxe para diversos outros setores”, aponta ele, fazendo alusão ao tipo de tecnologia capaz de criar novos conteúdos e ideias, imagens, áudios e vídeos, e também reutilizar o que sabe para resolver novos problemas.
Entre os cursos mais procurados estão Ética na Inteligência Artificial; Implantação de serviços de Inteligência Artificial; Digital Skills: Inteligência Artificial e ChatGPT; IA: Aplicações na Indústria; Fundamentos de Inteligência Artificial; Formulando Prompts com IA; Fundamentos de Ciência de Dados; Banco de Dados para Data Science, IA na Gestão de Negócios e IA na Indústria.
Embora a maioria dos brasileiros (82%) já tenha ouvido falar sobre IA, apenas 54% entendem o que é o termo. Por outro lado, 18% nunca ouviram falar e 46% não compreendem o seu significado. Os dados da pesquisa “Consumo e uso de Inteligência Artificial no Brasil”, do Observatório Fundação Itaú e Datafolha, revelam que a busca por conhecimento técnico e qualificação é uma necessidade para quem busca uma oportunidade profissional.
“O domínio de inteligência artificial no mercado atual não é uma opção, é uma exigência. Empresas que não utilizarem inteligência artificial como vantagem competitiva, como forma de trazer diferencial para os seus clientes, para os seus processos produtivos, colocam em risco a vida do negócio. Hoje é mais do que necessário aplicações em ambiente produtivo e em serviços administrativos e comerciais”, pontua Simões.
Dos usuários de ferramentas que utilizam IA, 70% relataram uso para apoiar atividades no trabalho, para se divertir no tempo livre e para estudar. O levantamento indica, ainda, que quanto maior a escolaridade, mais a tecnologia é direcionada a tarefas laborais. Diante deste cenário, o gerente de Educação Profissional e Tecnológica do SENAI ressalta que a carência de trabalhadores com letramento digital torna as vagas mais atrativas do ponto de vista financeiro.
“As empresas ainda estão com dificuldade de achar profissionais com profundidade de conhecimento em aplicações de inteligência artificial. Para aqueles que querem se especializar nessa área, o mercado de trabalho com altíssimos salários é algo garantido”.
Programa
Para atender o crescente interesse, o SENAI lançou este ano o Programa SENAI de IA Industrial, com trilhas formativas personalizadas para empresas e profissionais. A iniciativa inclui imersão presencial para lideranças, diagnóstico gratuito de prontidão tecnológica e elaboração de plano de ação com consultorias, cursos de qualificação, pós-graduação e programas de residência técnica com provas de conceito (PoCs) aplicadas ao ambiente produtivo. A residência em IA oferece 12 meses de formação prática com mentoria especializada e bolsa de estudo.
A instituição também oferece diferentes níveis de formação em IA, com algumas opções gratuitas, entre as quais cursos introdutórios, como Fundamentos de Python para IA (40h) e vídeos rápidos sobre ferramentas de IA aplicadas à indústria. Para saber mais, acesse o portal do SENAI ou procure uma unidade perto de você.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), em parceria com a Amazon Web Services (AWS), abriu 200 mil vagas gratuitas em cursos on-line sobre inteligência artificial generativa e fundamentos de computação em nuvem. O prazo vai até dezembro do ano que vem. O AWS Treina Brasil, como é chamado o maior programa nacional de formação em tecnologia já realizado, prevê capacitar 1 milhão de brasileiros até 2028.
O programa oferece uma combinação de conteúdos sob demanda — acessíveis a qualquer momento — e eventos ao vivo que enriquecem o processo de aprendizado. Ao término das formações, todos os participantes recebem um certificado de conclusão. As trilhas de conhecimento abordam desde conceitos básicos até conteúdos avançados, incluindo IA generativa, aprendizado de máquina, computação em nuvem, inovação, transformação digital e estudos de caso reais.
Segundo Mateus Simões, gerente de Educação Profissional e Tecnológica do SENAI, a parceria com a AWS é um passo estratégico para acelerar a transformação digital da indústria brasileira.
“Oferecemos o que existe de mais atual e de ponta hoje no mercado de IA. Os cursos que o SENAI oferece possuem um grande diferencial competitivo. Primeiro é que o desenvolvimento é feito de acordo com a real necessidade da indústria. Segundo é que as tecnologias que utilizamos na operacionalização desses cursos são oriundos de parcerias com as principais big techs do planeta”, ressalta.
A iniciativa é voltada a diversos públicos: jovens que desejam ingressar na área de tecnologia, profissionais que buscam atualização ou transição de carreira, além de pequenas e médias empresas (PMEs), empreendedores e entidades do setor público e terceiro setor.
Para viabilizar o alcance nacional, o AWS Treina Brasil reúne o SENAI de Santa Catarina e instituições como Refuturiza, Cartão de Todos, AllpFit, IBMEC, Alterdata, ETICE CE, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, Santander e Santander X, que apoiam ações de formação e mobilização em todo o país.
Cleber Morais, diretor-geral da AWS no Brasil, considera que as formações em novas tecnologias podem representar “um crescimento na carreira, uma transição ou a chance de entrar no mercado de trabalho”.
Mercado requer qualificação
O contexto impulsionador dessa mobilização nacional é a transformação acelerada do mercado de trabalho, que exige competências digitais em IA e nuvem para se adaptar às mudanças tecnológicas, ambientais e demográficas. O Relatório “Futuro dos Empregos 2025”, do Fórum Econômico Mundial, indica que IA e big data estão entre as áreas prioritárias para qualificação profissional.
Na avaliação de Julian Tonioli, CEO da consultoria empresarial Auddas, a principal tendência de tecnologia em negócios passa por agentes, superautomação e construção de aplicativos internos com IA. O que caminha, diz o especialista, para a evolução da entrega de serviços ou atividades através de software em grande volume.
Outra mudança é que pequenas e médias empresas têm ganhado mais capacidade para desenvolver tecnologias com processos que envolvem codificação e construção de softwares a partir de definição de negócios por pessoas leigas.
“Conforme essa barreira cai e as empresas conseguem adotar esse tipo de solução internamente, a produtividade aumenta. Com mais produtividade e capacidade, é possível não só acelerar mais pequenas empresas, como levar soluções que antes não eram acessíveis”, pontua.
As inscrições estão abertas no portal oficial do AWS Treina Brasil, onde os interessados podem escolher as trilhas conforme seu ritmo e interesse. A flexibilidade, aliada à abrangência do programa, torna possível que qualquer pessoa, em qualquer parte do país, possa acessar conteúdos atualizados e de alta relevância para o mercado digital em expansão.
Estudo da Amazon Web Services (AWS) mostra que ganho médio chegou a 31%; Câmara discute regulação
Um levantamento encomendado pela Amazon Web Services (AWS) e divulgado este mês mostra que 95% das empresas brasileiras que adotaram inteligência artificial (IA) já registram aumento médio de 31% no faturamento. Além das vantagens econômicas, o uso de novas tecnologias gerou ganhos expressivos de produtividade próximos aos 96% entre as companhias pesquisadas. O aprimoramento do atendimento ao cliente (66%), o investimento em formação e capacitação de funcionários (59%) e o desenvolvimento de novos produtos e serviços (56%) são outros benefícios citados no estudo “Desbloqueando o potencial da IA no Brasil”.
Diante do crescimento vertiginoso desse mercado, a Câmara dos Deputados discute um marco regulatório (PL 2.338/2023) que estabelece diretrizes para o desenvolvimento, fomento e uso ético e responsável da IA.
Inova Talentos oferece 174 vagas em inovação e tecnologia com bolsas de até R$ 12 mil
O deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), relator da proposta na comissão especial que trata do tema na Casa, prega equilíbrio e defende um debate que exclua divergências político-partidárias. “Vai ser essa maturidade que vai nos permitir a construção de uma legislação, um marco regulatório que nos traga equilíbrio. Não regular a tecnologia, porque a tecnologia sempre vai estar na nossa frente. Acho que a gente tem que fazer é como que a gente vai usar o novo para o bem. Esse é o desafio”, acredita o parlamentar.
Na mesma linha, a deputada Luísa Canziani (PSD-PR), presidente da comissão especial sobre IA da Câmara, argumenta que o Brasil precisa aproveitar a oportunidade para estimular a inovação.
“Nosso país, infelizmente, está muito atrasado em inovação. É um país que consome muita tecnologia, mas que ainda desenvolve pouca tecnologia. E esse é o nosso desafio, fazer com que o nosso país não fique fora do mapa da inteligência artificial e das grandes discussões tecnológicas. Tenho certeza de que através desse grande movimento, com a indústria, a academia e o Legislativo, vamos gerar emprego e renda através da inteligência artificial”.
Para o diretor de Relações Institucionais da CNI, Roberto Muniz, a regulação deve ser encarada como ponte, não muro, para o setor produtivo.
“Precisamos olhar que as obrigações tenham um limite para não ser um obstáculo para a indústria e que a governança seja menos centralizada. Precisamos incentivar os jovens, devemos regular a tecnologia, sim, mas devemos muito mais regular os seus usos. Essa é uma questão que precisa estar muito clara como princípio para que a gente não faça da nossa lei um engessamento para a indústria nacional”, afirma.
Muniz acrescenta que a CNI é a favor de uma norma que contemple o desenvolvimento para a promoção da indústria nacional. “Esse projeto movimenta 10,5 milhões de empregos e 35% da arrecadação do Brasil. Quando se fecha uma indústria, se fecha escolas e hospitais”, enfatizou.
Além disso, o representante da entidade sustenta que a regulação da IA pode representar uma posição estratégica para a economia brasileira. “Estamos aqui definindo se o Brasil estará presente neste futuro ao qual o mundo entende como irreversível ou se a gente vai, mais uma vez, como muitas discussões levam 25 anos no Brasil, onde a gente não consegue chegar a um consenso”.
Já aprovado no Senado, o PL 2.338/2023 está em fase de audiências públicas na Câmara e ainda não tem data prevista para ser votado em plenário.